O diretor geral da École Québec, e jornalista correspondente da Radio-Canada, Serge Boire foi convidado para participar do último episódio da série Seuls Ensemble exibida na TV5 Monde juntamente com a Rosella Tursi, uma outra quebequense que mora em Nova Iorque.
Com a mágica da videoconferência e a colaboração do anfitrião Pierre-Yves Lord, o programa Seuls Ensemble, destaca como cada país está passando pela crise do Covid, através dos olhos e das histórias de canadenses que moram ao redor do mundo.
São 14 episódios, onde em cada um deles, 2 pessoas são convidadas para compartilhar suas histórias e emoções vividas nesse tempo de pandemia. Foram entrevistados canadenses morando no Japão, Haiti, Países Baixos, Bélgica, Vietnã, Tanzânia, Panamá, Suécia, França, Chicago, Alemanha, Espanha, São Francisco, Israel, China, Itália, Coréia do Sul, Indonésia, Índia, Rússia, Austrália, Suíça, Nova Iorque, Brasil.
O útlimo episódio dessa série de entrevistas ao redor do mundo, foi dedicado ao nosso diretor Serge Boire, que mora no Brasil. Ele dividiu suas experiências e sentimentos sobre o delicado momento em que todos estamos vivendo.
TV5: uma das maiores redes de televisão do mundo
Ficamos extremamente lisonjeados com o convite para participar do programa, que decidimos te contar um pouco da história dessa emissora grandiosa.
A TV5 foi fundada em 1984. É uma das três maiores redes de televisão do mundo, juntamente com a MTV e a CNN.
Em 2006 a TV5 fez uma alteração no seu nome, renomeando-se para TV5 MONDE com foco total para o mundo, como uma rede global. É o primeiro canal mundial em francês, onde reúne uma média de 60 milhões de espectadores por semana em cerca de 200 países do mundo.
A sua missão é promover a língua francesa, mas também, oferecer, divulgar e compartilhar a diversidade de culturas e ponto de vista. Trazer informações multilaterais, e confiáveis em todo o mundo bem como explicar/mostrar as culturas dos pais onde o francês é o idioma. Conteúdo para todas as idades, desenhos e animes infantis, documentários e uma variedade de séries, entre outros. Financiada pela França, Suíça, Canadá, Quebec e Federação da Valônia-Bruxelas, a TV5MONDE está simultanêamente conectada com as TVs parceiras, cujos programas são vistos pelo mundo inteiro.
A TV5 MONDE é formada por vozes francesas de vários países. Vozes canadenses, francesas, belgas e suiças. Sendo assim, uma grande maneira de unir em um único lugar todos os francófonos. Sua particularidade é espalhar e pluralizar obras em francês, seja elas francesas, canadenses, belgas ou do continente africano, não importa. O importante é espalhá-las por todo lugar do mundo, apoiando as produções e coproduções originais.
TV5 MONDE é o operador oficial da Organização Internacional da Francofonia (OIF), que é uma organização internacional que congrega países em que a língua francesa é oficial ou tem um status privilegiado. Atualmente a organização tem 57 Estados que são membros e 20 países observadores.
A plataforma da TV5 MONDE disponibiliza, um espaço educativo para o aprendizado da língua francesa, eles disponibilizam uma variedade de vídeos curtos que ajudam a melhorar a pronuncia e a entonação das palavras. Os vídeos são dinâmicos e engraçados, e é possível fazer a busca por nível de conhecimento. Uma plataforma totalmente completa.
Nessa plataforma, existe um espaço totalmente exclusivo para atividades de aprendizado do iniciante ao intermediário com todo o conteúdo voltado para o Quebec. Todas as atividades estão relacionadas ao dia-a-dia no Quebec, seus pontos turísticos, atrativos esportivos e culturais.
Apresentando também, o serviço de treinamento para quem vai prestar a prova do TCF. No seu site, é possível testar o seu nível de francês, fazer exercícios do nível da sua fluência e fazer uma simulação da prova de proficiência. A simulação contém 80 questões que devem ser respondidas em 1h30.
A maior parte do conteúdo é retirada de canais de países que falam francês, além de notícias internacionais, a TV5 MONDE tem na sua grade de entretenimento uma variedade de séries, para o público infantil até adulto. Além de estar na plataforma do YouTube e com app exclusivo.
Uma curiosidade é que o número 5 no nome do canal é a contagem das redes que fundaram o canal: TF1 é um canal privado francês, sendo o primeiro canal em audiência na França e no continente Europeu, Antenne 2 é o principal canal de televisão público francês e o segundo mais visto na França, FR3 é o terceiro maior canal de televisão público e que faz parte do grupo France Télévisions, RTBF é uma organização que presta serviços de rádio e televisão à Comunidade Francófona da Bélgica, na Valônia e em Bruxelas, e TSR é a televisão suíça romanda.
TV5 Québec
Em 1988, A TV5 Québec faz a sua primeira transmissão, feita diretamente de Montreal para todo o Canadá.
A TV5 Québec oferece canais especializados em todo o Canadá que ajudam a promover diversidade cultural, social e linguística da Francofonia de Quebec. TV5 juntamente com a Unis TV fazem parte do serviço de televisão digital para empresas em todo o Canadá.
A Unis TV evidencia a pluralidade da diversidade da Francofonia canadense. Com programas gravados e produzidos em todo o país, o canal oferece programação geral e divertida. Fundamenta sobretudo nas realizações e aspirações das comunidades francófonas em todo o Canadá.
A Unis TV cria e, promove a produção de conteúdo original, oferece filmes, documentários, séries originais, entre outros conteúdos de qualidade, buscando cada vez mais a criação de laços com o seu público.
Nosso diretor Geral, Serge Boire, participou da primeira temporada do programa Seuls Ensemble, no episódio 14 da emissora.
Fizemos a transcrição da entrevista traduzida para o português.
Pierre Yves: Olá a todos, então eu estou saindo do meu porão para ir ao Brasil, onde está o Serge.
Serge, No Brasil, você vive aonde, que tipo de habitação?
Serge: Eu moro em um bairro de artistas, no centro histórico do Rio de Janeiro, bairro chamado Lapa, um dos bairros mais antigos. Eu vivo com meu marido em uma pequena casa de 70m2, dois quartos, que fica no início da montanha de Santa Teresa.
Pierre Yves: Serge não é um nome que pareça ser brasileiro, de onde você é, e por qual motivo ou razão você foi morar no Brasil?
Serge: Bem, eu nasci em Montreal. Fui criado em Napierville, na costa sul de Montreal, muito perto da fronteira americana, na verdade. E sou jornalista freelance há anos. Agora, ensino francês e sou dono da escola École Québec. Ensino francês para brasileiros que querem emigrar para o Quebec, e sou casado com um brasileiro.
Pierre Yves: No momento, é óbvio que você está vivendo em um dos lugares mais quentes do planeta no momento. E está claro que a pandemia mudou radicalmente a maneira como as coisas funcionam em suas cidades. Serge, o Brasil acaba de ganhar uma posição que não é viável se olharmos para a lista de países que sofreram pelo vírus. No dia a dia, como é vivida a pandemia em seu país?
Serge: Aqui, Pierre-Yves, não está indo muito bem, de jeito nenhum. Acredita-se que excederemos o número de infecções, o número de mortes atingidos pelos Estados Unidos. Então, estamos falando de 120.000 mortos aqui. Por que não está indo bem? Porque o presidente brasileiro não acredita que valha a pena cuidar da saúde das pessoas. Ele está mais preocupado com a economia. Então, aqui no Brasil, temos 27 governadores estaduais que recebem a mensagem da OMS e dizem às pessoas que devemos permanecer isolados, mas apenas 50% da população respeita essas indicações. O que significa que o Covid se espalha em alta velocidade. Aqui, estamos falando de 25.000 pessoas por dia infectadas e de 1200 a 1300 pessoas que morrem pelo Covid a cada 24 horas. Então, ainda não chegamos ao topo do famoso pico, sobre o qual falamos, que começamos na segunda-feira, aqui, no Rio e em São Paulo, medidas de desconfinamento. E é por isso que eu diria a você que não sei para onde estamos indo. Eu fico em casa. Estou muito mais ocupado do que estava. Eu administro duas escolas de francês. Tivemos que mudar nossos cursos presenciais para online. Eu trabalho sete dias por semana e não paro, mas pelo menos fico em casa.
Pierre Yves: Serge, só no Rio, à 1,5 milhão de pessoas que moram nas favelas. Imagino que seja praticamente impossível respeitar as regras do distanciamento social nesse contexto. A situação das favelas, fica como?
Serge: É uma realidade brasileira que não é justa no Rio de Janeiro, e que está em todo o país e que terá ainda mais impacto nas próximas semanas, porque as medidas de contenção nos bairros são difíceis.
Pierre Yves: Então, claramente a atitude do presidente, que é negligente com a situação, em oposição aos governadores que estão tentando impor medidas de distanciamento, que deve dividir a população.
Serge: Sim, absolutamente, e eu vou lhe dar um exemplo, Pierre Yves. Ontem eu tive uma vizinha, que é minha mãe brasileira.
Nós cuidamos um do outro e ela sabe muito bem que não pode sair de casa. Mas desde que ela perdeu o emprego por causa do Covid, ela começou a alugar quartos. Ontem, tive uma discussão difícil com um dos hóspedes que saiu para a rua sem máscara. Eu diria a você que existem cerca de 20, 30% das pessoas que não usam a máscara e olham para você como se você fosse um extraterrestre. Tenho a impressão de que, em algumas semanas, estaremos em uma situação bastante triste e bastante dramática aqui no Brasil. Onde sinceramente acho que teremos ultrapassado os Estados Unidos porque, precisamente, temos um presidente que acredita que devemos primeiro salvar a economia e depois salvar a vida humana.
Pierre-Yves: Os estados unidos acumula uma certa frustação nesse momento, em relação a pandemia, e a injustiça racial. (Esse assunto foi questionado, porque a Rosella, também convidada para participar desse episódio do programa, mora em Nova York. Onde ela foi questionada sobre como a população estava lidando com a pandemia juntamente com os protestos ”Black Lives Matter”, desencadeados depois da morte brutal do americano George Floyd.)
Serge: Eu concordo, acho realmente triste que isso ainda aconteça e estou feliz por haver manifestações em grande escala. O que me entristece e me ofende como indivíduo é que essas situações acontecem centenas de vezes por dia no Brasil. Mas quando se trata da América Latina, vocês acham que é normal. Mas uma vida negra brasileira e uma vida negra americana, na minha opinião, têm o mesmo valor.
Serge: Estou muito feliz em ver o que está acontecendo, mas o que há de errado comigo aqui é que estamos abrindo o Jornal nacional brasileiro com protestos negros nos Estados Unidos, de um homem negro morto pela polícia, enquanto isso acontece centenas de vezes por dia em todo o país, em um país de 208 milhões de habitantes. Isso me choca.
Pierre-Yves: Bem, eu entendo você.
E, de fato, é extremamente chocante. Estou lhe fazendo uma pergunta difícil. Responda-me com seu coração. Eu, pelo que ouvi de suas histórias e pelo que ouvi nas notícias sobre o Brasil e os Estados Unidos, me parece bastante instável hoje em dia. Você às vezes pensa que está no lugar errado?
Serge: Não, não, acho que nós dois conhecemos amor. Eu, pensei algumas vezes em voltar ao Quebec, mas diria a você, Pierre-Yves, que encontrei aqui, coisas, no nível dos valores dos brasileiros, que estão mais em harmonia comigo. Aqui, pobres ou ricos, aproveitamos cada dia porque não sabemos se amanhã ainda estaremos vivos. E isso, é o que eu busco mais.
Pierre-Yves: De fato, o que você está me contando, afinal, é que quando alguém encontra o seu lugar, a sua casa, não importa os momentos difíceis, se encontra a vontade, a energia para não desistir
Serge: Cada pessoa tem uma escala de valores.
Este não é o país perfeito, mas, ao mesmo tempo, se eu resumir bem, se fizermos nossa lista de pontos positivos e negativos, há muito mais pontos positivos do que negativos.
Pierre-Yves: De qualquer forma, Rosella em Nova York e Serge no Brasil, primeiramente, prazer em conhecê-los, o depoimento de vocês me tranquilizou. Isso me diz que, independentemente das dificuldades que enfrentamos, quando temos esperança e quando temos um profundo amor pelos seres humanos, isso nos dá asas e, em seguida, nos dá a força para enfrentar, qualquer que sejam as provações. Parece que estou um pouco emocionado, porque, seus testemunhos estão cheios de emoções, depois de sete semanas desde que, do meu porão, eu comecei a viajar pelo mundo. Faço novos amigos, ouço, descubro sabores, cidades, países, atmosferas. Então, terminar com vocês, nos dois lugares mais quentes do planeta, mas com pessoas extremamente calorosas. Então, eu quero agradecer, quero dizer obrigado.
Pierre-Yves: Mas quero enviar uma grande saudação a todos aqueles que se juntaram a nós nas últimas sete semanas. Existem bilhões de espectadores que têm nos seguido sozinhos nas diferentes plataformas da Tv5, foi realmente um momento muito bom, muito obrigado.